sábado, 3 de julho de 2010

A mulher na política Luiza Erundina

A mulher na política


"O partido, a sociedade e o sistema educacional não nos prepararam para o exercício da política"



VoteBrasil: A senhora foi a primeira mulher prefeita da maior cidade brasileira. Eu ainda me lembro da festa da sua eleição na Avenida Paulista. Naquele momento a combinação mulher e PT, um partido que alardeava sua postura ética, parecia uma nova esperança. Anos depois, o seu rompimento com O PT já tinha alguma coisa a ver com a crise de hoje?



Deputada Luiza Erundina: Olha, Isabel, tinha. Isso já estava gravado no partido, essa cultura dos meios serem justificados pelos fins, o uso do estado para favorecer candidaturas. Então houve um estranhamento meu com o partido, que dizia respeito à minha atitude com relação a essas práticas, eu tinha críticas, era um outro comportamento. Houve estranhamento entre o meu governo e o partido, além de outras diferenças. O partido interferia muito na gestão. Era o PT no governo em vez de ser o governo do PT, e não deveria ser assim. Fomos restritos por essa cultura petista, centralizadora, hegemônica. Nem mesmo os partidos pequenos que nos apoiaram não compuseram o primeiro escalão do governo, e esta era uma atitude autoritária, gerando dificuldade da prefeita em tomar decisões, tudo tinha que ser submetido à executiva municipal; havia um patrulhamento constante, muito conflito. Tudo isso já era um viés daquilo que hoje explica essa crise, a subordinação de uma instituição a outra, do governo ao partido... Esses equívocos já ocorriam naquela época.



VoteBrasil: Ainda não apareceu nenhuma mulher política envolvida nos atuais escândalos de corrupção. As políticas são mais honestas que os políticos?



Deputada Luiza Erundina: Culturalmente pela nossa formação e nossa educação (das mulheres) a expectativa é mais rigorosa, sobretudo em se tratando de função publica, e até por sermos minoria, cresce a consciência da responsabilidade e do papel social, pois somos essencialmente pedagogas. Não é diferente na política. Quando militamos, conscientemente ou não, temos uma dimensão de educadoras e é muito bom que seja assim. Estamos sub-representadas politicamente: somos menos de 9% na câmara e menos de 10% no senado, mas somos mais de 50% dos eleitores e do povo. Mas esse nosso perfil ético e transparente e de rigor no comportamento, sobretudo no exercício de mandatos, contribui muito para que se perceba a importância da presença das mulheres na vida política.



VoteBrasil: A impressão que se tem é que as mulheres fogem da vida política e mesmo que votam menos em candidatas mulheres, que os homens é que votam mais em mulheres. Assim, parece natural que sejamos a minoria no poder. A que a senhora atribuiria toda essa situação?



Deputada Luiza Erundina: A mulher é mais tímida, tem muita dificuldade de se lançar, os partidos não propiciam tratamento diferenciado às mulheres. Para os partidos é mais cômodo dizer que a mulher não se interessa, já que não lhes dão tratamento privilegiado. O partido, a sociedade e o sistema educacional não nos prepararam para o exercício da política. Da deficiência da nossa educação em relação a isso, vem o viés de preferirmos escolher os homens na hora de votar, pois nós nos subestimamos, até inconscientemente. Quando a mulher escolhe eleger o homem é porque ela própria não se sente preparada para a vida política; ela se compensa psicologicamente dizendo que política é coisa de homem, de oportunistas, de corruptos e isso no fundo nos compensa e vamos deixando para os homens, que não contemplam os nossos interesses. Tanto é que existe a dificuldade que os partidos têm de cumprir as cotas de mulheres.



No PSB, propus cota 30% do horário de TV e Rádio e 30% dos recursos do fundo partidário aos órgãos de mulheres, para que possamos nos treinar no uso da mídia. Se eles têm dificuldade de preencher as cotas é porque as mulheres não têm condições objetivas, ainda que algumas possam ter as condições subjetivas. Não têm meios, recursos, espaço na mídia. Era de se supor que um partido socialista fosse sensível a essas bandeiras, enquanto o congresso não aprova essas idéias, era de se esperar uma compreensão dos partidos da esquerda, que pudessem se antecipar. No entanto, fui derrotada até por voto de mulheres teleguiadas pelos homens, derrota que teve o apoio do voto feminino, delegada sob o mando de um homem.



A maioria das parlamentares estão em partidos de esquerda, pois a esquerda nos prepara mais, apesar das limitações. Os partidos de esquerda têm tradição de mais combatividade. Mas mesmo as mulheres vindas dos partidos de direita às vezes nos surpreendem.



Conquistar a nossa auto valorização é tarefa gigantesca. Nós mulheres, nossas organizações, tudo tem importância, a luta pela igualdade de participação, nossa disputa e conquista de poder para garantir os nossos direitos, mudar a cultura política. O fato de nenhuma mulher estar envolvida nos escândalos recentes é uma indicação positiva de que as mulheres se preservaram, demonstra positivamente a nosso favor e precisa ser explorada por nós.



Nenhum partido facilitou a candidatura de mulheres à presidência da Câmara. A bancada feminina ainda não atingiu a maturidade para pleitear isso: mais mulheres em espaço de poder.



VoteBrasil: O que levou a senhora a propor essa lei da Brinquedoteca (que obriga os hospitais que têm setor pediátrico a manter uma brinquedoteca)?



Deputada Luiza Erundina: Já é lei e já está sendo aplicada. Na rede publica de saúde, onde há setor pediátrico, é obrigatória a criação de um espaço lúdico. Para humanizar e ser um instrumento terapêutico. Uma brinquedoteca não é só um amontoado de brinquedos, mas requer também a presença de técnicos, psicólogo, pedagogos. Essa idéia já está se espalhando para outros espaços, para a 3ª idade, e até para o sistema prisional. O potencial do lúdico está sendo descoberto no mundo inteiro como atitude existencial e aproveitado como instrumento terapêutico.



Comentários desta EntrevistaJanaina



02/09/2008 - 09h10
São Paulo / SP

Precisamos Mais de Pessoas Assim!



Sou Janaina, tenho 20 anos, e quando a Erundina foi Prefeita, eu estavano Ensino Fundamental, ainda assim crescí ouvindo minha mãe falar sobre a Erundina, e a esperança que ela traz com ela, as suas realizações como Mulher na política, e desde sempre admirei. Pena que o PT não soube aproveitar os seus bons políticos. Meu comentário, não é mais que um elogio, por saber que temos ao menos uma Mulher de caráter e honesta, que é "limpa" em meio essa política suja, precisamos de mais pessoas assim!!